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Archive for 27 de Março, 2012

Quando eu era pequena me ensinaram que livre arbítrio vem com um preço: aceitar as consequências das escolhas, porque toda escolha tem um resultado mais ou menos previsível.
Por isso mesmo – e por nao saber o dia de amanha – sempre tentei guardar minhas verdades absolutas para mim mesma e compor meu mundo também a partir do que os outros pudessem me ensinar.
Aprendi muito com meus avós, meus pais, meus irmãos, meus primos, meus colegas. Mesmo aqueles de quem eu discordava ferozmente me ensinaram algo em algum momento, um “algo” que carrego até hoje.
Nao esqueço o dia que dei um tapa no rosto da minha melhor amiga no colégio e ela me ensinou que isso nao se faz. Nao esqueço o dia em que meu irmão explicou pro meu primo que ninguém consegue agradar todo mundo e por isso nao se pode exigir perfeição de ninguém. Nao esqueço meu pai demonstrando que nao é errado pedir explicações quando nao se entende porque alguém agiu de certa maneira. Nao esqueço a eterna sede de conhecimento de Cristiano que, assim como Pedrinho, me mostrou que a gente precisa correr atras pra aprender. Mas o que mais me marcou nesse tempo todo foi uma conversa com uma colega evangélica em que trocamos impressões sobre o mundo e eu percebi que ela nao era tão diferente assim de mim – eu espirita.
Foi por isso que quando eu vi o documentário sobre meninos árabes e judeus se encontrando pra jogar futebol me identifiquei tanto.
As pessoas precisam parar um pouco de defender essa ou aquela teoria, essa ou aquela corrente usando como recurso o descaso, o demérito, o desprestigio de opinião divergente. Ninguém convence como o melhor apenas alegando ser o outro pior. E ninguém convence o outro do seu erro apenas apontando e rindo. É preciso mais do que isso.
É preciso paciência. É preciso tolerância. É preciso leveza. Antes de tudo, é preciso admitir que opiniões sao isso – opiniões. E nao havendo dono da verdade, fica impossível saber quem está certo e quem está errado. Resta-nos conviver – ou seja, viver com, viver em conjunto, aceitar a vida do outro – ou preparar-mo-nos para constantes embates.
Ando meio cansada de embates. E esse mundo tem mesmo andado muito mal freqüentado. Farei minha parte para nao ser uma das causadoras dessa péssima reputação que a humanidade está ganhando.

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Hoje eu precisei enviar um email do trabalho falando sobre uma audioconferência realizada à tarde. Comecei a escrever e rolou a dúvida: audio-conferência ou audioconferência? com ou sem hífen? Não sabia responder.

Consultei os universitários aqui da mini-família e, embora nenhum deles soubesse e alguns questionassem meu interesse em saber a grafia adequada, um apresentou uma informação útil: consultar o decreto.

Daí nova dúvida surgiu: qual decreto? O decreto da língua portuguesa, oras! Mas qual o número dele? Com o argumento de busca dos mais bizarros ( “decreto da lingua portuguesa”), Google (sempre ele!) fez surgiu o Decreto nº 6583/08, que promulgou o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em Lisboa em 16/12/1990.

Ahh o Google...

[Pausa para observações cronológicas.

1- O Acordo Ortográfico foi celebrado pelos países nele mencionados (Brasil inclusive) em Lisboa, em dezembro de 1990.

2- Em abril  de 1995, o Congresso Nacional aprovou o Acordo em questão, e o isntrumento de ratificação foi depositado em 1996.

3- Em 2007 o Acordo entrou em vigor em âmbito internacional.

4- Em 2008 foi editado o Decreto em questão.

Primeira conclusão: se você for escrever uma carta ou email para Portugal com uma mega-idéia sobre uma nova infra-estrutura para estudar os efeitos das microondas, já desde 2007 você deveria estar escrevendo sobre uma megaideia sobre uma nova infraestrutura para estudar os efeitos das micro-ondas.]

Então esse decreto (a exemplo do clássico 2745/98) possui apenas 04 artigos (um dos quais tratando a vacatio legis e outro modulando seus efeitos) e um anexo GIGANTESCO. O anexo é o Acordo.

Comecei a ler. Alfabeto com 26 letras, regras sobre o uso do k, do w e do y; “h” inicial e final; homofonia de alguns grafemas consonânticos, sequências consonânticas; vogais átonas, vogais nasais, ditongos; acentuação de oxítonas, de paraxítonas, “i” e “u” tônicos em oxítonas e paroxítonas, proparoxítonas, acento grave; trema; hífen. Hífen.

Existem inúmeras (e enormes) regras sobre o emprego (ou não) do hífen, cada uma com suas exceções. Logo, ou você decora, ou você decora (se escrever errado não for uma opção e você não tiver o corretor ortográfico adequado instalado em seu computador). Ah, hífen, esse malandro!

A primeira delas fala sobre seu uso em “compostos, locuções e encadeamentos vocabulares”. Segundo o Acordo, guarda-roupa ainda tem hífen (provavelmente pra ele continuar sendo usado para pendurarmos os cabides. Ahn? Ahn?) e Trás-os-Montes também. O primeiro por tratar-se de palavra composta por justaposição cujos elementos possuem significado autônomo. O último por tratar-se de topônimo cujos elementos estão ligados por artigos.

Logo, quanto aos topônimos compostos, os que não tiverem seus elementos ligados por artigo nem tiverem como um de seus elementos uma variação verbal ou o termo grão/grã não terão hífen. O Acordo cita, como exemplos, América do Sul, Belo Horizonte, Cabo Verde, Freixo de Espada à Cinta etc.

Daí eu parei. Voltei um tantinho assim na leitura só pra conferir. Sim, o Acordo falava em Freixo de Espada à Cinta. Um lugar? Ou uma piada, para ver se os representantes dos países estavam atentos? Desconfiei e fui ao Google.

Freixo de Espada à Cinta. Um município português, na divisa entre Portugal e Espanha, com cerca de 4.100 habitantes, segundo a Wikipedia. Lendas variam sobre seu nome, mas achei o brasão bem sugestivo:

 

Tudo isso porque eu precisava saber se audioconferência era com ou sem hífen. E não, não tem hífen, porque segundo o Acordo, trata-se de formação por prefixação com uso de elemento não autônomo não prevista nas hipóteses de hifenização. 😉

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