Quando eu era adolescente, nos idos de mil novecentos e noventa e alguma coisa, me sentia poeta (recuso-me a usar o termo feminino, por parecer condescedente e sexista) e escrevia loucamente o que imaginava serem obras dignas de publicação.
Daí um dia minha irmã entrou na Faculdade de Letras e, ao pegar um poema meu, fez sugestões do que eu deveria fazer e do que eu deveria evitar (algo sobre rimas pobres, rimas ricas etc). Nunca comentei com ela, mas doeu. Terrivelmente. Ter sua obra analisada por um crítico que apenas avalia a técnica empregada, sem ver o sentimento por trás das palavras, dói.
Algum tempo depois, ela no final da faculdade, retratou-se e pediu desculpas, escrevendo ao lado de suas críticas anteriores que a literatura é livre e existe muito além da técnica empregada.
Lembrei dessa história hoje ao entrar no site onde eu deveria escolher a melhor poesia dentre as selecionadas para a fase de júri popular no concurso da empregadora. Dois descreveram suas obras de forma técnica, esclarecendo a métrica, a contagem dos versos; usaram-se expressões como “versos decassílabos”, “soneto italiano”, “tercetos”. Mas meus favoritos foram exatamente aqueles que não tinham qualquer descrição, qualquer explicação.
Porque a boa literatura não precisa ser explicada, destrinchada, dissecada. Precisa ser sentida. Qualquer tentativa de justificá-la termina por criar no leitor uma falsa impressão de objetivo. A arte em geral tem o dom de causar no destinatário a emoção que ele precisa. Dispenso esclarecimentos sobre o que eu devo sentir ao lê-la, mais ainda se os esclarecimentos se transformarem em uma aula de teoria literária.